AFINAL CONTINUA…
MAS TAMBÉM,… JÁ TINHA
COMEÇADO ANTES…
O QUE NÃO QUER DIZER
QUE ACABE AQUI…
RM, 28/8/2003
(com uma caneta um bocado abichanada, foi assim que assinaste)
e passados 4 anos, é esta a minha REVELAÇÃO:
AFINAL:
Podes vir a qualquer hora, cá estarei para te ouvir
O que tenho pra fazer, posso fazer a seguir
Podes vir quando quiseres, já fui onde tinha que ir (…)
Todo o texto do mundo, para ti, tenho todo o texto do mundo, para ti…. Também, para ti.
E nisto vens-me à cabeça com toda a força. Tenho saudades de falar, (…) tenho 2 pés gelados na cama, 2 pés gelados enquanto estou sentada à secretária, 2 pés gelados a cada passo que dou, e dou por mim indecisa: mando-te esta mensagem para o telemóvel ou não? Para quê?, se não vais responder? Se já pouco ou nada sei de ti?
…
e os meus pés não aquecem….
E não me sai da cabeça ‘’chamada não atendida’’, ‘’Matsu;)’’. (ainda é assim que estás registado na minha lista telefónica. Ainda e sempre esse ‘’pinheiro verde’’…)
E eu, surpreendida. E eu ‘’O Ricardo, ligou-me?’’, ‘’Terá sido um toque?’’ e eu sem dinheiro para lhe ligar, que raiva!
E um turbilhão de coisas, pensamentos, imagens, memórias, cheiros, sons, formas, telas, tintas, recantos, livros, fotos, canções, doces, palavras, areias, estantes, …
Tanto que me irrita, que nem um Mundo muito, muito grande com um texto lá plantado chegavam para tudo. E eu, sempre a sentir-me um grãozinho.
Impotente, pequenino, triste.
Porque sente que nunca vai ser apanhado do chão. E no entanto vai ficar sempre ali. Não vá algum dia haver uma distracção da folha lá do alto, e zás, acontece! Tropeça nele e tem mesmo de lhe tocar. Ainda que não o leve consigo, toca-lhe por breves segundos. Já se aproximou… e o grão respira … e sente-se vivo… e pode permanecer na sua cegueira por mais uns infinitos… (CV, 6/11/07)
E foi assim que voltaste.
VOLTASTE.
À minha tela.
Mesmo sem eu te pingar de tinta.
Mesmo sem eu abrir a caixa dos pincéis.
Eu que além de já ter fechado a gaveta à chave, tinha ainda perdido a chave.
Perdido.
Num desses dias em que um sapato mais distraído e zás. Lá se vai a chave para debaixo do móvel.
eu a pensar: Deixa estar. Não te dobres. É da maneira que não tens a tentação de abrir a gaveta.
E deixei estar. Não me baixei.
E tive este tempo todo a tentação de abrir a gaveta, mas sem chave….
era fácil resistir.
E agora vens tu, desarrumar-me a casa.
Mudas os móveis de sítio, pegas na chave e numa de ‘’encontrei esta chave debaixo do móvel!’’, todo um sorriso só; confiante. Todo ‘’já te deve ter feito falta, e eu é que a encontrei!’’, nesse ar vanglorioso, a espetar com ela na palma da minha mão.
Engulo em seco.
Tu não percebes. Ou finges.
E agora; e agora só tenho de ter o trabalho de rodar.
E qual tentação qual quê. Já estou de gaveta aberta, e zás, tu novamente do lado de fora.
A pingar-me memórias, a borrar a minha pintura, a sujar os meus pincéis,… a… pendurado outra vez na minha parede…
Eu a pensar: Porque é que cada vez que tenho de arrumar a minha vida, estás sempre lá no meio, feito um clipe à espera de ser posto no sítio?
Como tenho sítios para tudo, agora também tenho forçosamente de ter um sítio para ti, não? Na minha gaveta, fora dela, em cima da mesinha, nas paredes,…?
Ainda assim, há clipes que jogo no lixo.
Outros há em que hesito: Até pode fazer falta. Deixa estar. Mete dentro do boião.
Hum, não. Pra quê mais um clipe? Já tenho tantos. Joga fora. (CV, por estes dias…)
16/11/07, entre as 16.45 e as 19H, depois de teres entrado na loja e eu me sentar no espaço de leitura da FNAC. (porque raio complico sempre as coisas? Era um espaço de leitura. Não de escrita.):
podia ter vindo a correr chorar. Podia chorar desalmadamente. Até que o montante de resíduos que me sobram fosse todo expelido. Até que lavas, cinzas e pedras-pomes, todas cá para fora.
Dei-te a cinza do prazer (…)
O meu bem mais precioso
Que eu tinha para te dar (…)
Um dialecto crioulo
Um viço novo no mato.
Podia prosseguir com palavras caras para sentimentos tão pobres.
Às vezes … ou já... tão podres.
Podres pelo tempo…
Sempre são 4 anos.
Nada dura tanto tempo sem apodrecer.
NADA…. Hé? ÀS VEZES!
A Natureza tem destas coisas: ‘’devido ao seu estado fisiológico, à biologia da espécie, aos componentes moleculares, ao local onde foi enterrado, à granulometria do solo, foi possível a preservação deste exemplar, de tão importante valor cultural, paisagístico, social, humano,…’’
E vai daí que os sentimentos não apodreceram. Nem sombras. Nem rés. NADA. nadinha.
O raio dos sentimentos estão exactamente na mesma, nem um cheirito a mofo, nem uma ponta de bolor, mesmo num cantinho que mal se visse.
NADA.
NEM UM BOCADINHO ESTRAGADOS, amolecidos, desintegrados, desarranjados.
NADA.
Ali. Todos por inteiro, e a puta da natureza no seu melhor.
A puta da natureza a não me deixar chorar, para que eles fossem com os freáticos, os lençóis, os lixiviados, e o raio!
NADA.
Eu com tudo cá dentro.
A NÃO APODRECER.
Nesta merda de eternidade eterna, que nunca acaba.
A tua vida que nestes 4 anos não mudou assim tanto. E a minha que não mudou NADA.
NÃO. NÃO vou escrever este parágrafo. Vou riscar.
Afinal o que é não mudar?
A tua vida não mudou só porque tens a mesma casa, os mesmos cães, os mesmos amigos, a mesma família, a mesma namorada?
A minha só porque não tenho casa, não tenho cães, e apesar de ter os mesmos amigos (e mais alguns), e a mesma família (e mais alguma), não tenho namorada? Nem namorado?
É a isto? É a isto que se resume não mudar?
Porra!
Nem pouco mais ou menos.
Não sei de ti, do que fizeste por ti, pelas tuas realizações pessoais (e nem houve tempo para conversarmos de tudo e tanto como gostaria), mas eu mudei e muito.
Viajei, conheci novas culturas, novas gentes, outras formas de agir e pensar, aprendi novas línguas, … e cantigas de outras terras, que percorri de lés a lés,
Tenho uma lamparina, que trouxe das Arábias,
Pra te amar à luz do azeite, num kamasutra, de noites sábias. (…)
Vem, vem à minha casa,
Rebolar na cama e no jardim…
Não fiquei portanto pobre, e nem apodreci.
De contrário.
Mas também não mudei???
É isto que quero continuar a escrever?
É a isto que continuo a dar importância?
À puta da felicidade?
A esta dependência obsessiva em encontrar alguém?
A essa ideia da ‘’nossa’’ casa, os ‘’nossos’’ cães, os ‘’nossos’’ amigos, a ‘’nossa’’ família?
Porra!
Não posso sentir-me pobre, quando alguém me ‘’provoca’’ e zás, tive que vir a correr sentar-me num canto qualquer e expelir estas lavas, estas cinzas, estas pedras-pomes todas cá para fora.
Não posso sentir-me pobre, quando me elogias porque ‘’aprendeste a falar inglês. Já escreves e tudo!’’
Não posso sentir-me pobre, quando ‘’vou falar com o Tiago a ver se dá para meteres textos no blogue das artes’’.
NÃO. Não vou escrever este parágrafo.
Estava a ir tão bem e agora parece que me estou a vender.
A VENDER.
Mais uma vez.
Sempre.
A vender-me.
Eu.
Eu que sou toda ‘’ai não tenho jeito nenhum para vender’’, estar ali a impingir coisas às pessoas.
NÃO! Isso não faço!
Vou antes escrever que estou indecisa entre continuar a escrever ou ir buscar um livro do Lobo Antunes (de quem tenho tantas saudades), já que estou num Espaço de Leitura e não de Escrita.
Se fosse tão fácil vir a Lisboa num dia e mandar-lhe uma mensagem para vir tomar um café comigo…
Talvez não houvesse este texto, e com certeza: eu estaria mudada.
Mais rica.
E com a podridão ainda mais longe de se dar.
E como não consigo largar o lápis vou levantando o olhar, que se prende imediatamente num rapaz mulato, bem parecido, ali num canto a dormir. Deve estar cansado. Deve estar à espera da namorada… penso.
Sim, hoje em dia quem não tem namorada, namorado?
E volto ao mesmo assunto.
PORRA!
Vou buscar o Lobo Antunes.
Já chega!
Estou proibida de continuar aqui.
Estás proibida de escrever aqui!
Levanta-te!
Passa em frente ao rapaz. Vê se ele abre os olhos quando passares e cruza o olhar com o dele.
Deixa-o curioso.
Insinua-te. Como só tu o sabes fazer tão bem.
Ou vai agora rápido, sentar-te ao lado dele, que já saíram todos. Ou escreve um bilhetinho com
www.evirgula.blogspot.com (desculpe o ab(uso). Não pense. Não reaja. Leia apenas. Se quiser.)
e deixa-o em cima das coisas dele.
Sim. Porque não informar um dos muitos desconhecidos sobre quem já escreveste?
Que ao fim ao cabo usaste? E que se não lhes disseres, não chegam a saber de nada?
Fui buscar o ‘’D’este viver aqui neste papel descripto’’ e sentei-me em frente ao rapaz.
Pensei sentar-me ao lado dele para o bilhetinho, zás em cima das coisas dele, ‘’ai sem querer. Ai. Voou!’’
O plano já efectuado, mas já não havia lugares ao lado dele e acabámos neste frente-a-frente, ele nas suas leituras, no Espaço de Leitura. Eu, ora nas minhas leituras de um Lobo Antunes sempre a agradar-me com os seus ‘’… lembro-me (…) do sinal do peito do teu pé, do teu dente de ouro, do canal da tua nuca, e gosto absurdamente de todos: minha senhora, eu amo-a’’, ora nas minhas escritas, ora e no meio delas os nossos 4 olhos que se cruzam, finalmente. Que param, que apreciam, e se viram, cada par para seu lado.
E penso no amor… esse sentimento… outra vez… as escritas de Lobo Antunes. A imponência do grito altivo: ‘’minha senhora: eu amo-a’’. E esqueço-me logo do rapaz mulato. E vem-me ao lápis o motivo deste texto:
Os teus lábios, os teus dentes, a tua língua, a tua boca toda; os teus gestos, os teus olhos, o teu cabelo, o teu corpo; tu todo.
IGUAL.
Não mudou NADA.
Não é só a casa que é a mesma. Os cães que são os mesmos. O lalala e o resto que é o mesmo. És tu todo que és o mesmo. Igual. Nem uma ruga, nem uma imperfeição. NADA.
It’s meeting the man of my life and then his beautiful wife
Isn’t it ironic?
Sempre são 4 anos.
Mas Tu, sem apodreceres também. Nem sombras. Nem rés.
Nem um pêlo a mais, num cantinho de corpo que mal se visse.
Tu, NEM UM BOCADINHO ESTRAGADO, amolecido, desintegrado, desarranjado.
NADA.
Ali. Todo por inteiro, e a puta da natureza no seu melhor.
A puta da natureza a não me deixar chorar, para que TU FOSSES com os freáticos, os lençóis, os lixiviados, e o raio!
NADA.
Eu com tudo DE TI cá dentro.
A NÃO APODRECERES.
Nesta merda de eternidade eterna, que nunca acaba.
VOU. Vou escrever este parágrafo. SEMPRE. Até mudar.
ISTO TUDO e eu inteira. A não chorar. A não expelir.
Eu que fazia tudo IGUAL. Contigo. Outra e outra e outra e outra vez outra vez, vês, vês?, sim, ainda.
Para RM, na Décima: Achas que, NÃO FOI: a ‘’nossa’’ casa, os ‘’nossos’’ cães, os ‘’nossos’’ amigos, a ‘’nossa’’ família, PORQUE sou pobre?
Pobre.
Pobre a todos os níveis...
e triste.
- Indeferido –
Eu, porque isto tudo ainda não apodreceu cá dentro.
Eu, num grito silenciado e a fazer de ti um conhecido especial sobre quem já escrevi. Sobre quem já escrevi, tanto…
Que já informei tanto.
Que ao fim ao cabo usei. Mas que disse sempre, para que soubesse: TUDO.
Bato a porta devagar
Olho só mais uma vez (…)
Frágil como as asas de uma vida
É o riso, é a lágrima, a expressão incontrolável (…)
É a sorte, é a sina, uma mão cheia de nada (…)
Mas nunca, me esqueci de ti
Não, nunca, me esqueci de ti.
E neste Sempre a escrever às tuas custas, à custa destes resíduos sentimentais que não param de entrar em erupção.
E é com este Sempre que quero conquistar esse blogue das artes.
Com este Quero, dito, escrito, com a mesma imponência do grito altivo: ‘’minha senhora: eu amo-a’’.
E é contigo (e não comigo) que os quero convencer.
Eu não sou nada.
Eu não fiz nada.
Eu só fui apanhada pela lava de um vulcão, que quando expeliu o que tinha lá dentro, me deixou queimada. Para sempre. Nesta puta de eternidade eterna.
que nunca acaba, nunca acaba.
Nunca acaba.
Porque
AFINAL CONTINUA…
MAS TAMBÉM,… JÁ TINHA
COMEÇADO ANTES…
O QUE NÃO QUER DIZER
QUE ACABE AQUI…