Carla Veríssimo cria site para se dar a conhecer e ao seu trabalho.

Carla Veríssimo cria site para se dar a conhecer e ao seu trabalho| http://cavverissimo.wix.com/carlaverissimo

06/12/12

António Feio, 6 de Dezembro de 1954



Se a nossa senhora Google Portugal estivesse atenta a datas, poderia ter sido algo assim que teria surgido hoje, quando fossemos pesquisar alguma coisa.
Depois ao passar o rato sobre o "G" e o António, a página reencaminhava, por exemplo, para:
https://www.google.com/search?q=ant%C3%B3nio+feio&ie=utf-8&oe=utf-8&aq=t&rls=org.mozilla:pt-PT:official&client=firefox-a; ao clicar no "l" e no bonito chapéu do Feio ;), lia-se um pouco mais sobre este actor e encenador português em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Feio e por fim, ao clicar no outro "g" e no "Boa sorte" da mão de António, um link para uma das suas encenações, que de fantasia pouco tem, neste nosso país: https://www.google.com/search?q=vai-se%20andando&hl=pt-BR&client=firefox-a&hs=ZvP&rls=org.mozilla:pt-PT:official&biw=1440&bih=737&ie=UTF-8&sa=N&tab=iw&ei=IhLBUOixG5KDhQeSzoDoCg

Em suma, um Parabéns sempre, ao senhor nosso actor, António Feio.

13/11/12

Celina da Piedade no Misty Fest | Centro Cultural de Belém | 16 Nov 2012 | 21H00

Celina da Piedade apresenta disco de estreia "Em Casa" no Misty Fest
Centro Cultural de Belém | 16 de Novembro | 21H00

Nas palavras de outros:
Celina da Piedade tem levado o seu acordeão até aos mais diferentes contextos e agora estrea-se a solo com um disco recheado de surpresas.
"Em Casa", vai ser apresentado no Pequeno Auditório do CCB, juntamente com alguns convidados como, por exemplo, Samuel Úria. No acordeão e ao microfone, Celina é um tesouro que agora urge descobrir no centro do palco.
Algures entre as formas e cores tradicionais, com viagens pelas memórias das danças portuguesas, e um sentir mais moderno e universalista, Celina desenha uma música cheia de alma e de personalidade que em palco ganha com a sua formidável presença.
Quem já a viu em concerto, pisando palcos ao lado de Rodrigo Leão, Mayra Andrade ou Ludovico Einaudi reconhece-lhe o imenso carisma.

Nas minhas palavras:http://evirgula.blogspot.pt/2012/10/assim-te-explico.htm

Não percam!
http://www.misty-fest.com/index.php/pt/

11/11/12

Para um Desconhecido

Porque é que um desconhecido tem o poder de me enebriar o cérebro, a vista, o pensamento, o corpo,...?
Qual será a sua profissão?
Quais serão os seus hobbies?
Fará desporto, caminhadas?
Gosta de futebol, de centros comerciais, de carros, de telenovelas?
Gosta de homens? Ou de mulheres?
Ou de uma mulher só? Ou de um só homem?
Qual o motivo da sua viagem?
O que faz com que duas pessoas se cruzem num mesmo espaço, lugar e tempo e sigam caminhos diferentes no minuto seguinte?
Será um ser humano dos bons ou dos maus?
Terá certamente defeitos e qualidades.
E neste cruzamento teremos em comum sermos dois vivos, seres, a caminhar pela vida; na vida. nesta viagem que é sempre úncia na origem, na passagem e no Destino.
Final.

04/11/12

Palavrilhas - Outubro 2012


Palavrilhas é uma rúbrica de Carla Veríssimo na Yuzin -  Agenda Cultural de São Miguel.

15/10/12

Tributo a Florbela



À margem de um soneto
escrevo o que me vai na alma. Nesta alma de mulher corre o fogo de um amor de outrora; não a paixão de Manuel Garcia, porém uma paixão devastadora.
Mulher de perdição que fui, amor de sacrifício que vivo tristemente, sob o dominó preto que me sufoca.
As orações de Soror Maria da Pureza são a oferta do destino, um destino que não pedi, mas que me




As máscaras do destino... como ele é...

incerto,

como não o sabemos nunca...
como não lhe conhecemos o sobrenatural que comporta...

Mamã, nesta carta da Herdade, que te escrevo como dedicatória, voam as palavras do meu amigo Aviador, ele que corta os céus com grandes asas, ele que tem como companheira vestida de negro, a morte...

O Inventor mergulhou também as suas palavras nesta carta e nela semeou desordem, como no crime do pinhal do cego. Pobre cego... esperou anos a fio o regresso do filho, porém os mortos não voltam, e sua mulher, a morta que mais lágrimas derramou em vida, descansa agora eternamente.

Tudo o resto, é perfume.

(texto escrito algures no início dos anos 2000, após leitura da vida e obra de Florbela Espanca)

05/10/12

Ulsan World Music Festival 2012



Conseguem reconhecer neste cartaz a Carminho, o António Zambujo e o Rodrigo Leão?!
É verdade!
Neste momento são mais 9 horas na Coreia do Sul do que em Lisboa, pelo que a Carminho já actuou, mas volta ao palco do King Theater amanhã, dia 6, às 21.30 (hora local).
Neste momento também está no mesmo palco do King Theater, Rodrigo Leão, juntamente com Celina da Piedade, e muito provalvelmente Viviena Tupikova, Pedro Wallenstein, João Eleutério, Miguel Nogueira, Rui Vinagre e Tó Trips
Eles voltam novamente ao palco amanhã, mas já em Seul, no LG Arts Center, às 19h, no âmbito do Festival CoMPAS
António Zambujo apresenta a sua música pela primeira vez na Coreia do Sul.

A acompanhá-lo está o músico Bernardo Couto na guitarra portuguesa, Jon Luz no cavaquinho, José Miguel Conde nos clarinetes e Ricardo Cruz no contrabaixo e direção musical.
Na babagem, Zambujo leva o álbum Guia e alguns temas do mais recente trabalho Quinto!
Concertos no dia 6, às 18h10, e no dia 7, às 17h, também no King Theater.

Pode obter mais informações sobre o Ulsan World Music Festival em 

e sobre o Festival CoMPAS em:

À falta de informação acerca da presença de algum meio de comunicação social português a acompanhar o evento, e/ou da possibilidade de o acompanhar online, deixo os seguintes links:

03/10/12

Assim te explico...











Começar por onde?
Pela beleza das capas do álbum? Pelas letras das músicas, pelas composições, pela musicalidade como um todo?
Pela divulgação da música popular / tradicional portuguesa?
Pela presença em palco, e daí como se depreende facilmente, também na vida: com alegria?
Pelo carisma, como se sente e se lê nos mais variados meios de comunicação social, onde agora a Celina brilha ainda mais com as suas flores no cabelo?
Pela Mazurcas que nos fazem enebriar e sentir apaixonados?
Pela boa disposição do Calimero e a Pêra-verde que nos faz dançar?
Ou pelo Assim me explico, que para mim é o que mais me toca cá dentro... mesmo quando tudo não vai mal... ;)
E assegurar que cá dentro vou sentir muitas vezes essa voz e toada, e hei-de traulitar amiúde:
Assim me explico
sem palavras, com sons
...
Possa eu cantar
quando tudo vai mal
e isso me faça acreditar
que é natural
 

Possa eu te dar
sons que nasçam em mim
e que juntos queiramos cantar
Assim...

E pedir mais letras e músicas assim: bonitas, como a Celina das flores no cabelo!

Para quem escreve, sentir que alguém sente através da música aquilo que se sente através da escrita é a expressão máxima de uma emotividade que está dentro de nós, e que nos sai do coração, com toda a alma, pelo que a frase da Celina diz tudo:
Para mim cada música é um tesouro. Todas as escolhas de temas, instrumentos e convidados são feitas com muita emotividade. Faço música com o coração, e com ela o preencho, a música é a minha casa e faço-a com quem tenho partilhado a minha vida..."

A nós, público, resta-nos Explicar-te EM CASA e ao mundo ;)














Fotos por Rita Carmo

03/08/12

Para o Tó... com muita saudade

De repente vens-me novamente à lembrança. Mais do que à lembrança, até. Vens com um desses transeuntes que tanto se assemelha contigo... ou com o que foste...
E todo o sorriso e cara, cabeça, cabelos, tronco e pernas que conheci estão, de alguma forma, aqui tão perto, de novo... Outra vez... passados 8 anos...
A saudade é algo que não passa, a memória que não se apaga e a lembrança que não se esquece...
Quantas mais palavras seriam preciso escrever para que esse sorriso e cara, cabeça, cabelos, tronco e pernas, pudessem ter vida de novo?
Escrevia-as todas. Agora mesmo!

06/07/12

Palavrilhas - Julho 2012



Palavrilhas é uma rúbrica de Carla Veríssimo na Yuzin -  Agenda Cultural de São Miguel.

Design por Isidro Fagundes - YUZIN

01/06/12

Estavas ali, à distância de me levantar do banco e dar 4 passos até ao balcão.
Antigamente, os homens que se enamoravam das raparigas, tinham de conseguir chegar às suas janelas! primeiro, e às suas famílias depois! Aí residia o "catrapiscar", "engatar", andar atrás, conquistar...
Hoje em dia, não temos essas barreiras físicas, e parece-me que as distâncias de um banco, 4 passos e um balcão ganharam a dimensão de um pai que não nos vai dar a sua filha em casamento.
Estavas ali, a essa distância, física, tão pequena, e eu nem um:
Quando é que voltas às fotocópias?
Podemos tomar um café.
ou
O que queres beber? Pago eu!
ou
Em que balcão é possível encontrar-te sem ser neste?
ou
O que fazes amanhã? Queres ir dar um passeio? Preferes na praia ou na montanha? Mergulhar?
qualquer coisa.
Qualquer coisa que não tive coragem. Que temi a resposta, e que agora me inquieta à distância de uma toalha estendida na areia e não saber quantos passos são até esse lado de lá, onde estarás.




18/04/12

Para a avó

AVISO: Este texto não é ficção. Infelizmente é real. Bem real. À família, desejo força para o ler, porque creio que apesar de triste, bem triste, traz também muitas das nossas lembranças, alegrias e momentos. E por isso, passo a publicá-lo aqui: hoje, dia 18 de Abril, dia em que a avó faria anos. Como uma homenagem. Como um desabafo, há muito cá dentro e com muita vontade de sair.
Aos 18 de Abril nasceu também Antero de Quental, escritor e poeta de Ponta Delgada.
Aqui fica a minha escrita e poesia, sentida não só em Ponta Delgada, como em todas as ilhas dos Açores, onde vivo, há 2 anos e 2 meses.
Como poderão ver, o texto que se segue, demorou 3 anos a escrever e não está acabado. Não estará acabado nunca. Começou em Junho de 2009, terminou em Outubro de 2010, e além dos retoque do hoje, continua vivo não só agora em 2012, como sempre.
Aos que o lerem: Força e coragem.
A neta mais velha... de sua avó.

07.06.09:
Se ela soubesse que morreu a 13 de Maio até ficava feliz.
A avó Luísa. Sim, devota como era, com as suas rezas na cozinha, mais pelos outros que por ela, até ficava feliz.
Às vezes sinto que fez de propósito. Que escolheu aquele dia de propósito.
Que será agora da criança que caiu na albarda da burra, enquanto a avó Luísa, distraída, continuava a puxar?
Às vezes acho tão impossível ter caído de uma burra abaixo e no meio do azar, ter a sorte de cair dentro da albarda, de pernas para o ar é certo, mas cair e ficar viva, que me deveria ter certificado da veracidade do episódio com a avó.
Agora acho tão impossível não existir a avó para lhe perguntar tudo isto...
17.06.09:
Num dia falei com ela ao telefone e no outro estava morta.
Num dia ela sabia que a filha iria completar 50 anos nesse sábado, sabia da festa surpresa que as netas estavam a preparar à mãe, sabia do cabrito, do pão, dos queijos, do prato a mais que tinha de pôr na mesa ao jantar do dia seguinte, para a neta que iria dormir lá a casa.
Num dia sabia de tudo isto e no dia seguinte estava morta, e o conhecimento dela parou ali.
O que ela sabia ficou ali, naquele dia. Congelado.
É como se a história pudesse continuar a partir daquele ponto, se ela agora voltasse a ter vida.
Foi ali que ela parou.
Naquelas informações todas. Naquela realidade.
E o que a neta sente, surge agora desconexado.
Ora lembranças do passado, de um passado distante, que já tinha morrido mesmo antes da avó. Muito antes da avó; ora de um presente que não queria ver.
A neta que não consegue chorar e que julga que é isso que as pessoas chamam “ser forte”. Mas será mesmo?
A avó Luísa.
O que é, do que foi a avó Luísa?
O que é da mulher que teve 10 filhos?
Da mulher que lavava roupa à mão?
Da avó que se arreliava quando lhe dizia: Oh avó, se calhar tá grávida do 11º filho!, ao que me respondia: Tá calada, antes que leves um estalo na puta da tromba!, ela que até não era mal criada.
Aliás, era uma boa criada, isso sim! Do avô, dos filhos e dos netos!
Ela que rezava pelo avô, em vez de rezar por ela mesma.
Ela toda bruxas e enguiços e terços e bíblias.
Ela nas suas saias.
Vêm-me em catadupa imagens da sua cara, do corpo, das vestes, do cheiro, das posições, das falas,... voceses isto, voceses aquilo...
E se eu ligar agora para o telemóvel dela, quem vai atender?
Se ela parou naquele dia?
20.07.09:
A avó Luísa não morreu.
A avó Luísa ficou retida lá atrás.
No tempo.
No Monte.
Na Lanchita.
Entre o trabucar de tachos e panelas desde as 6 da manhã até ser noite.
Nos pombos, no horto, na água que ia buscar ao poço.
Essa avó não morreu.
Essa avó está no estendal da roupa, entre molas caídas e ceroulas do avô.
A avó Luísa está la atrás, na casa das loiças, dos lençóis, da roupa das tias, das selas dos cavalos, das arcas,...
A abrir uma cancela, a passar a roupa com o ferro de brasas...
A atravessar a sala enorme, para fazer voltar a mexer o pêndulo, daquele relógio de corda, em que o tempo era outro, tão outro, mas todas as horas tocavam.
Foi em catadupa a notícia triste...
A minha semana de cansaço e angústia, os meus pressentimentos.
Depois o telefonema do meu tio. E eu na inocência de achar que iria dizer não poder ir à festa surpresa da minha mãe. E do outro lado a voz dele entre lágrimas.
Foi a avó... Carla...A Avó...
a avó morreu...
e eu incrédula. E eu a dizer-lhe que estava a gozar comigo. Que só podia estar a gozar. E eu a puxar os meus cabelos com toda a força e a gritar, a gritar.
A gritar e a andar de um lado para o outro, por entre os colegas de trabalho.
Eu a chorar.
Eu numa outra realidade.
Incrédula.
Acima de tudo: INCRÉDULA.
27.09.09:
Eu no “lugar do morto” no meu carro, porque não estava capaz de conduzir.
O meu tio em lágrimas...
31.08.09:
Eu a agarrar nas malas à pressa. As malas que já estavam preparadas para ir de fim-de-semana, mas para festejar os 50 anos da minha mãe. Com toda a família. Com a avó...
Eu a entrar para o carro de um amigo do meu tio.
O meu tio no “lugar do morto”. O amigo a conduzir.
Tudo muito estranho....
muito surreal. SURREAL.
É ISSO.
08.09.09:
Chegámos à Casa Mortuária. Várias pessoas da família... Amigos da família...
O carro funerário...
Tudo para a avó....
Pela minha avó Luísa...
Incrédulo
Inacreditável
Surreal
Estranho
Bizarro...
Entro na sala e o caixão ao fundo...
Não é ela...
Não é a avó..., dizia eu para os meus primos.
10.10.09:
É. É a avó, dizia um deles enquanto me abraçava.
Ele com lágrimas nos olhos. Eu sem conseguir chorar muito...
Atravessei a sala toda. Ao fundo, em frente, o caixão. Não me detive muito tempo a olhar, embora estivesse a um braço de distância dele.
Retive um fato vestido que não gostava nada, que era um fato muito pesado... o tecido era pesado... as rugas do tecido... a cor.... uma espécie de verde que não é seco, não é tropa, simplesmente NÃO É!
Aquele fato pesado para aquela ocasião pesada....
E o corpo dela orientado com a cabeça para a porta de saída, em vez de estar como se fosse virada para as pessoas, para a rua. Não sei se há alguma regra religiosa para aqueles posicionamentos, mas aquela não me agradou... Estava fora do sítio.
Entretanto a senhora da agência funerária pede-me o nome e a idade dos 10 filhos para colocar na Certidão de Óbito.
Começo por dizer o nome da minha mãe e a idade, 50 anos (quando me apercebo que na realidade, naquele dia, a minha mãe ainda só tinha 49... estava a 3 dias de fazer os 50...)
Entretanto, eu e o avô no mesmo carro que a avó.
Nós no banco de trás, e a avó ainda mais atrás, rodeada de flores, muitas flores.
14.04.10:
Não me fazia impressão ir ali dentro. Estranhamente não fazia.
Não me fazia impressão pensar que a avó ia lá atrás, deitada dentro de um caixão. Não fazia.
Nada me fazia impressão porque tudo parecia tão irreal.
Tão estúpido.
Tão absurdo.
Quando começou a escurecer, reparei numa luz lá atrás, junto da avó, e aquilo sim, fez-me impressão. Perguntei se tinha mesmo de ir acesa... deram-me a entender que era em sinal de respeito... mas voltei a insistir e a explicar que aquilo sim, me estava a fazer impressão.
A luz apagou-se. E só voltou a acender-se depois de eu ocupar outro carro, e uma das tias, o meu lugar.
Era já tarde quando chegámos ao destino final. Eu pensava na minha mãe... como estaria devastada...
Ela rodeada de gente a tentar consolá-la, mas ela a soluçar de dor, tristeza e acima de tudo RAIVA.
RAIVA, é o que se sente.
Raiva. Revolta.
E eu, nem a ver a minha mãe naquele estado conseguia chorar.
Eu não chorava.
Eu continuava a achar que aquilo tudo só podia ser brincadeira.
Que alguém estaria a gozar connosco.
(No dia 14.04 um dos meus tios faz anos, o que quer dizer que há 39 anos atrás a avó Luísa estava a dar à luz......)
26.04.10:
Dormimos, e só no dia seguinte, consigo soluçar um choro...
E depois a Missa, a Igreja, e o caixão da avó, com a avó, ali pousado, fechado.
O padre a perguntar quem queria fazer uma leitura e eu a oferecer-me logo.
E sabem, arrependo-me até hoje de não ter interrompido aquela leitura pré-definida para fazer ouvir aos presentes, quem foi a minha avó.
Isso sim, seria uma Missa. Uma última homenagem, se é que há últimas homenagens, pois falar do que uma pessoa fez e foi na vida devia ser feito à própria pessoa, quando ainda está viva.
Arrependo-me de não ter dito como a avó atendia o telefone, com aquele “táaaaaaaaaaaa”, muito prolongado, de como nós saltávamos nas camas, ríamos, falávamos e ela sempre a mandar-nos calar, que não ouvia o que lhe diziam do outro lado da linha!; contar das comidas que fazia, das roupas que lavava, das brasas acesas para o ferro de engomar...
Porque não posso ter outra vez essa avó??
E todos esses tempos no Monte?
Estou a escrever este texto há quase um ano... porque me custa tanto...
Custa-me hoje pensar que há um ano atrás ela não sabia, nós não sabíamos, que em 17 dias ela iria morrer.
Este limite custa muito.
Custa-me esta paragem do tempo. Do conhecimento. Da sensação.
Da vida.
Assim como a infância, as minhas recordações dos tempos no Monte são as melhores da minha vida.
Podíamos ir outra vez buscar água ao poço, podias, avó, andar outra vez com os tachos na mão, entre a casa do forno e a cozinha, podíamos ir outra vez fazer o avio aos sábados, podias outra vez chamar-me oh filha, podia ouvir a tua voz outra vez, … podias outra vez ver as novelas depois do almoço, podias outra vez toda uma vida, cheia de força, coragem e trabalho.
Podia continuar por mais um ano a escrever este texto.
Pensei que no cemitério ia ter coragem para me aproximar do caixão, a minha mãe também equacionou, mas não conseguimos. Alguns dos filhos a beijar a avó pela última vez, mas nós não fomos capazes.
E não julgo que isso seja importante. Porque não era essa a minha avó.
A minha avó ficou parada lá trás... no dia 13 de Maio de 2009.
Ao telefone comigo no dia anterior... do outro lado da linha.
01.06.10:
Texto para sempre inacabado e/ou em construção, porque a avó não terá alguma vez uma letra final.
04.09.10:
E se hoje me apetecesse ligar à minha avó Luísa?
Contar-lhe como estou, o que faço, saber do que faz, onde está...
E não é preciso ligar-lhe porque ela está aqui, aí, em todo o lado...
E questiono-me se hei-de chorar.
E questiono-me se isto deve ser uma questão.
Porque não interessa nada se choro ou não. O que interessa é que hoje me apetecia tanto falar com a minha avó.
Ouvi-la...
Ouvi-la...
Consigo ouvir a voz dela na minha cabeça...
Consigo até imaginar o que falaríamos ao telefone...
Mas isso não me basta.
E basta-me que a avó não esteja aqui, para que o hoje não seja o que me apetecia.
12 e 13.10.10:
Tenho muitas saudades da avó.
O cheiro a terra seca.
O árido das pastagens.
As cercas, os muros, os arames farpados. As vacas, os cavalos, cabras, galinhas, pombos,...
Andar no pasto, no monte, no campo tem disto.
Santa Maria recorda-me os dias quentes do Alentejo, as noites estreladas em frente à porta. Os candeeiros a petróleo, a mesa da cozinha.
A banca onde todos gostávamos de nos sentar. O jantar a meia luz, a avó já cansada das panelas das 6 da manhã, dos tios, do avô, dos netos, da casa do forno,... a dormitar de braço em cima da mesa e cabeça em cima do braço.
Tenho mesmo saudades da minha avó. E então, o que é que faço com isso??
Cresci no campo e agora trabalho no campo. As mais pequenas coisas, neste momento, fazem-me recordar a minha juventude. A avó, o Monte, o dia-a-dia nos meses de Verão.
E não adianta pôr por palavras que em São Jorge, na Graciosa ou no Faial, uma vaca, uma ovelha, uma pastagem, uma cerca, o verde, a terra, as galinhas, me fazem recordar a minha avó.
Isso não se põe por palavras.
Isso sente-se.
Ficou cá dentro. Como ficou a avó. E ficou cá dentro de uma forma que na altura não percebi, e agora está a vir ao de cima.
E agora tenho muitas saudades da minha avó e não sei o que fazer com elas.
Mas se ela me gritasse para lhe ir apanhar a roupa que vai começar a chover, para ir buscar água ao poço, para ir encerrar as galinhas, ou pra lhe abrir o postigo, eu ia a correr, e nem refilava!
O relógio da minha avó parou a 13 de Maio de 2009.
O pêndulo ficou lá atrás, e a roupa vai ficar Para Sempre, por pendurar

18.04.12
A avó Luísa não morreu. Está só fora do sítio. Ficou retida lá atrás.
E se eu hoje fosse ler na Missa da avó, seriam estas palavras que a minha voz faria ecoar, porque a avó ficou cá dentro.

16/04/12

A vida, contada assim à minha sobrinha

Ainda não ouvi o teu primeiro choro e já te quero falar do espernear que terás pela frente.
Ainda nem sei se serás princesa, fada, cinderela, soldadinho, pinóquio ou anão.
Ainda não te conheço e já tenho para ti todos os nomes bonitos do meu mundo: Alice, Olivia, Maria Clara, Amélia, Benedita, Eduarda, Maria Flora, Amália,...
Gil, Francisco, Gustavo, Joaquim, Francisco Gil, Pedro Gil,...

Só daqui a alguns anos poderás entender esta história, ou pelo menos lê-la... já que isto da vida são apenas 3 parágrafos: nascer, crescer e morrer.
Ponto final parágrafo. É mesmo assim. Frio. Curto. arrebatador.

Já as linhas de cada um deles, desses parágrafos, podem ter tantas palavras como as estrelas que há no céu.
E se fizermos brilhar forte cada uma delas, deixaremos certamente o nosso pó no universo.
A tua pele, o teu olhar, a expressão de todos nós, teus antepassados, em ti...
Os risos, os gritos, as birras, os saltos, as fomes, as noites, as falas,... Serão essas as tuas marcas. As páginas do livro que hás-de escrever... das histórias, afinal tão tuas, que afinal nós, poderemos ler.
Fim!... Do 1º capítulo!

Texto escrito a 31.01.2012 e publicado a 16.04.2012, quando soube que afinal serás fada, cinderela e princesa! ;)

23/03/12

Descalças fazem performance do texto: Muda de sexo!

Perdi o meu Bilhete de Identidade há uns tempos.
Castro Verde é dos sítios do País onde já se faz o Cartão do Cidadão (antigo CU).
A senhora introduziu todos os dados da minha identidade no computador. No fim, imprimiu uma folha e pediu-me para conferir se estava tudo bem.
Eis senão quando, leio: Carla Alexandra Vitorino Veríssimo, nascida a 11/08/79, sexo MASCULINO!!!!!
Disse-lhe que aquela "parte" estava mal.... Eu não tinha, nem tenho dessas "partes".
Ela, muito pasmada , disse-me: Ó menina, mas eu não lhe mexi no sexo!
E eu pensei: Ainda bem....
Ainda assim, intrigada, voltou a verificar os dados no computador. Refez tudo novamente, mas o sistema insistia que eu - Carla Alexandra Vitorino Veríssimo, natural de Leiria, blábláblá -, sou do sexo MASCULINO!!!
Ligou para o Apoio, que lhe disse que eu estou registada na Justiça Portuguesa como sendo do sexo MASCULINO!!!!!!!!
Aí é que fiquei com cara de CU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sexo: Masculino!!!!!!!!
Onde??
Que não sinto nada....
Nem uma comichãozita nos tomates....
NADA!!!
Já todas as comadres e compadres lá presentes se riam. A senhora ainda me perguntava Não mudou de sexo pois não?
- Não! Não quer que me dispa aqui agora, à frente de toda a gente, pois não? Eu saio ao pai, mas nem tanto!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- Oh, menina, é que agora vou ter de lhe mudar o sexo. Não se importa, pois não? Peço imensa desculpa.
- Oh, minha senhora, insira aí o meu sexo FEMININO no computador!!!
Antes que eu exiga ser do sexo FEMININA!!!, já agora!!!

E lá paguei 12 euros, não pela Alteração de Sexo, mas pelo CU, que agora é CC!!
De CU para CC, é mais ou menos como Carla Alexandra Vitorino Veríssimo, que era Macho e agora é Fêmea!!!
Bela Justiça a que temos!!!
A sorte é que foi rápido e não doeu nada, esta Operação!!!

21/03/12

Dia Mundial da Poesia

Entrei. Como quem vai comprar sardinhas, sei lá.
Entrei e dei de caras com uma mini-feira do livro. Quer dizer, um quadrado de estantes com livros voltados para todos os pontos cardeais.
Dei uma volta à bússola, apenas para manter o vício de ver livros e na esperança que algum tivesse um íman para os meus olhos, para as minhas mãos.
Entrei, mas o que não esperava era reencontrar o teu sorriso, e com ele ver a minha agulha desmagnetizar. E com ele, a minha barriga nas costas. Bem lá atrás.
Peguei-te novamente. Desfolhei fotos antigas, bem antigas. Fiquei folha atrás, página à frente, naquelas recordações, e é então que estabilizo o meu compasso, no teu olhar. E é então que junto o meu sorriso ao teu, e com esse "Aproveitem a vida" na mão e o meu cachecol Feio ao pescoço, sorrio para a máquina ;)

08/03/12

AL-Gures em 2008

Desacordo ortográfico

Deixei a discussão da Mariana e do Salvador, na Casa Quieta; deixei a Teresa e o Tomás, na Insustentável Leveza do Ser; deixei a burra, a Ana, e o velho Durico, na Cal; deixei o Eric Clapton, na História do Mundo em Nove Guitarras; e deixei ainda a dona maria e o seu marido, num orgasmo sonoro a duas vozes, em Variações Tangenciais.
Deixei-os a todos e pus-me a escrever o que gostaria que alguém deixasse dentro de uma obra ((de)terminada) (prima), desses jovens criadores.
Escritores
Escriadores
Escridores
Escriatores

E foi assim que deixei também de brincar com as palavras. Que as palavras são coisa séria. Pronto final.
Para agrafo.
Trave São.

A escrita não é senão uma obra de arte. E tomo a liberdade de fazer desta arte a minha obra.
Sem acordos ortográficos.
sem as regras que outros querem impor.
A regra impõe-na o texto, fá-la o bico do lápis, a minha mão toda. Nem sequer o meu cérebro, a minha razão.
Farei da liberdade – a minha: arte de expressão.
Com sentimento
Consentimento
Comsentimento

Arte livre.
Em que só há um acordo.
Um acordo com a minha ortografia, que se quer fazer a ela própria em desacordo.
Des(acordo)
Acórdo
Acôrdo

Sem querer saber das metáforas, dos pleonasmos, das redundâncias, dos acentos, da entoação, do contexto.
Não sei pintar senão letras. Esboços a lápis de carvão, depois impregnados por uma tinta electrónica de máquinas que substituem dedos, e mãos inteiras de palavras.
Pala
A lavra
(P)a(lavra)

Sinto a escrita portuguesa, ou pelo menos, os jovens escritores, a enveredar por caminhos paralelos. E como paralelos: cruzam-se no infinito. No infinito de símbolos, negritos, itálicos, tamanhos 8, 14, triângulos, quadrados, asteriscos, cardinais, reticências
Infinitos de fazer das palavras mais do que meros aglomerados de letras, que aborrecem as mais fúteis e preguiçosas das gentes.
Formas mil de ser 1000 original, de inventar mais, de fazer mais um trocadilho, criar mais uma expressão, ser o primeiro espermatozóide a fecundar o óvulo, e que ri com ar de gozo, a saber que os seus companheiros, por mais que esperneiem não chegam lá. Por mais que se flagelem não furam. Por mais que percam a cabeça, não entram!
Infinitos de estórias entrelaçadas e frases de fazer pensar. De fazer pensar lê-las em voz alta. E repeti-las. Repeti-las. Repeti-las. Vezes e vezes sem conta, sem contar as vezes sem conta.
Formas 1000 de(s)fazer das palavras esta arte e dar-lhes vida.
movida
vida movida
(mo)vida
 
gosto de comboios que não tem raça de homens… descarrilados.
Apetece-me estoricar. Cheira a gente. Sabe a sexo.

Pronto final. Para agrafo. Trave São.