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14/11/06

Há uns largos meses escrevi um texto que dizia:

Há olhares que nos marcam mais que certas palavras. Como os de 2 desconhecidos que se cruzam num autocarro.
Olhares que têm o mesmo destino e vêm de diferentes origens.
Olhares que não se olharão mais.
Talvez.
Olhares que se falam em pensamento. Que nos levam o lápis deambular na brancura de uma página.
Tenho vontade de sair do meu lugar e sentar-me ao lado daquele olhar.


A semana passada, num outro desses tantos lugares comuns, 2 desconhecidos voltam a cruzar os seus olhares. E aí escrevi:

A 2 OLHOS POR DETRÁS DE 1 BIOMBO

Entrei. Perguntei: - É por senhas?
Respondeu-me: - Como?
Refiz a pergunta: - É preciso tirar ticket?
Disse-me: - Não. É por ordem de chegada.
Perguntei: - A que horas é que isto fecha?
- Às 17.
Esperei um minuto. Nem isso, talvez.
Olhei para o relógio. Pensei: Ainda tenho tempo de ir tratar do outro cartão primeiro.
Saí.
Voltei a entrar faltavam uns 10 minutos para as 17.
Vinha apressada, a arfar. À minha frente lá continuava ele. Sorrimo-nos mutuamente.
Pensei: Este sorriso quer dizer: - Ainda conseguiu chegar a tempo!
Achei-o bonito. Os olhos, o sorriso… tudo.
Aguardei a minha vez. Pensei: Gostava de ser atendida por ele…
Entretanto, um colega fez-me sinal e chamou-me. Como o assunto não ficou esclarecido, pediu-me para aguardar até que uma outra pessoa fosse falar comigo.
Sentei-me. E cruzei o olhar com o “sorriso rasgado” (quando não sabemos o nome dos desconhecidos só podemos falamos do que nos marca). Senti cumplicidade…
Ele levantou-se. Foi a outra sala. Quando voltou, fitou-me de novo os 2 olhos, num sorriso rasgado. Retribuí.
Senti que aqueles olhos me despiam. Ali! Em frente a toda a gente.
Uma mulher chamou-me nesse instante para uma sala.
Voltei a vê-lo passar. Vi 2 olhos por detrás de 1 biombo a olhar novamente para mim. A sorrirem-me…
Souberam-me bem aqueles sorrisos.


Volto a escrever:


Há olhares que nos marcam mais que certas palavras. Como as de 2 desconhecidos que se cruzam…
Olhares que vêm de diferentes origens.
Olhares que não se olharão mais.
Talvez.
Olhares que se falam em pensamento. Que nos levam o lápis deambular na brancura de uma página.

Tive vontade de ficar lá…

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