Carla Veríssimo cria site para se dar a conhecer e ao seu trabalho.

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23/03/12

Descalças fazem performance do texto: Muda de sexo!

Perdi o meu Bilhete de Identidade há uns tempos.
Castro Verde é dos sítios do País onde já se faz o Cartão do Cidadão (antigo CU).
A senhora introduziu todos os dados da minha identidade no computador. No fim, imprimiu uma folha e pediu-me para conferir se estava tudo bem.
Eis senão quando, leio: Carla Alexandra Vitorino Veríssimo, nascida a 11/08/79, sexo MASCULINO!!!!!
Disse-lhe que aquela "parte" estava mal.... Eu não tinha, nem tenho dessas "partes".
Ela, muito pasmada , disse-me: Ó menina, mas eu não lhe mexi no sexo!
E eu pensei: Ainda bem....
Ainda assim, intrigada, voltou a verificar os dados no computador. Refez tudo novamente, mas o sistema insistia que eu - Carla Alexandra Vitorino Veríssimo, natural de Leiria, blábláblá -, sou do sexo MASCULINO!!!
Ligou para o Apoio, que lhe disse que eu estou registada na Justiça Portuguesa como sendo do sexo MASCULINO!!!!!!!!
Aí é que fiquei com cara de CU!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Sexo: Masculino!!!!!!!!
Onde??
Que não sinto nada....
Nem uma comichãozita nos tomates....
NADA!!!
Já todas as comadres e compadres lá presentes se riam. A senhora ainda me perguntava Não mudou de sexo pois não?
- Não! Não quer que me dispa aqui agora, à frente de toda a gente, pois não? Eu saio ao pai, mas nem tanto!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
- Oh, menina, é que agora vou ter de lhe mudar o sexo. Não se importa, pois não? Peço imensa desculpa.
- Oh, minha senhora, insira aí o meu sexo FEMININO no computador!!!
Antes que eu exiga ser do sexo FEMININA!!!, já agora!!!

E lá paguei 12 euros, não pela Alteração de Sexo, mas pelo CU, que agora é CC!!
De CU para CC, é mais ou menos como Carla Alexandra Vitorino Veríssimo, que era Macho e agora é Fêmea!!!
Bela Justiça a que temos!!!
A sorte é que foi rápido e não doeu nada, esta Operação!!!

21/03/12

Dia Mundial da Poesia

Entrei. Como quem vai comprar sardinhas, sei lá.
Entrei e dei de caras com uma mini-feira do livro. Quer dizer, um quadrado de estantes com livros voltados para todos os pontos cardeais.
Dei uma volta à bússola, apenas para manter o vício de ver livros e na esperança que algum tivesse um íman para os meus olhos, para as minhas mãos.
Entrei, mas o que não esperava era reencontrar o teu sorriso, e com ele ver a minha agulha desmagnetizar. E com ele, a minha barriga nas costas. Bem lá atrás.
Peguei-te novamente. Desfolhei fotos antigas, bem antigas. Fiquei folha atrás, página à frente, naquelas recordações, e é então que estabilizo o meu compasso, no teu olhar. E é então que junto o meu sorriso ao teu, e com esse "Aproveitem a vida" na mão e o meu cachecol Feio ao pescoço, sorrio para a máquina ;)

08/03/12

AL-Gures em 2008

Desacordo ortográfico

Deixei a discussão da Mariana e do Salvador, na Casa Quieta; deixei a Teresa e o Tomás, na Insustentável Leveza do Ser; deixei a burra, a Ana, e o velho Durico, na Cal; deixei o Eric Clapton, na História do Mundo em Nove Guitarras; e deixei ainda a dona maria e o seu marido, num orgasmo sonoro a duas vozes, em Variações Tangenciais.
Deixei-os a todos e pus-me a escrever o que gostaria que alguém deixasse dentro de uma obra ((de)terminada) (prima), desses jovens criadores.
Escritores
Escriadores
Escridores
Escriatores

E foi assim que deixei também de brincar com as palavras. Que as palavras são coisa séria. Pronto final.
Para agrafo.
Trave São.

A escrita não é senão uma obra de arte. E tomo a liberdade de fazer desta arte a minha obra.
Sem acordos ortográficos.
sem as regras que outros querem impor.
A regra impõe-na o texto, fá-la o bico do lápis, a minha mão toda. Nem sequer o meu cérebro, a minha razão.
Farei da liberdade – a minha: arte de expressão.
Com sentimento
Consentimento
Comsentimento

Arte livre.
Em que só há um acordo.
Um acordo com a minha ortografia, que se quer fazer a ela própria em desacordo.
Des(acordo)
Acórdo
Acôrdo

Sem querer saber das metáforas, dos pleonasmos, das redundâncias, dos acentos, da entoação, do contexto.
Não sei pintar senão letras. Esboços a lápis de carvão, depois impregnados por uma tinta electrónica de máquinas que substituem dedos, e mãos inteiras de palavras.
Pala
A lavra
(P)a(lavra)

Sinto a escrita portuguesa, ou pelo menos, os jovens escritores, a enveredar por caminhos paralelos. E como paralelos: cruzam-se no infinito. No infinito de símbolos, negritos, itálicos, tamanhos 8, 14, triângulos, quadrados, asteriscos, cardinais, reticências
Infinitos de fazer das palavras mais do que meros aglomerados de letras, que aborrecem as mais fúteis e preguiçosas das gentes.
Formas mil de ser 1000 original, de inventar mais, de fazer mais um trocadilho, criar mais uma expressão, ser o primeiro espermatozóide a fecundar o óvulo, e que ri com ar de gozo, a saber que os seus companheiros, por mais que esperneiem não chegam lá. Por mais que se flagelem não furam. Por mais que percam a cabeça, não entram!
Infinitos de estórias entrelaçadas e frases de fazer pensar. De fazer pensar lê-las em voz alta. E repeti-las. Repeti-las. Repeti-las. Vezes e vezes sem conta, sem contar as vezes sem conta.
Formas 1000 de(s)fazer das palavras esta arte e dar-lhes vida.
movida
vida movida
(mo)vida
 
gosto de comboios que não tem raça de homens… descarrilados.
Apetece-me estoricar. Cheira a gente. Sabe a sexo.

Pronto final. Para agrafo. Trave São.

07/03/12

Desde Janeiro de 2012 que tenho uma vida dupla.
A entidade para a qual trabalho decidiu aderir ao Novo Acordo Ortográfico, mas eu não.
Eu, enquanto pessoa, pessoal e singular.
Portanto, de segunda a sexta, das 9 às 19 terei de ceifar consoantes, acentos, traços e tracinhos, e quando chegar a casa, janto a minha sopa de letras e volto a colocar cada uma na sua palavra.
Palavra de honra! com h!

04/03/12

Arco-Íris | Disco Voador | Clã

há meninas em rebanho
e há bandos de rapazes
elas são sossegadinhas
eles devem ser audazes

dizes tu que não condizem
cor de rosa e azul celeste
cada sexo em seu lugar
foi assim que me fizeste

mas então por que razão
ainda vês com maus olhos
o homem que ama outro homem
a mulher que ama a mulher

se os separas à nascença
e fazes tanta questão
de manter a diferença
entre a irmã e o irmão

viva a maria rapaz
e o rapaz que não é peste
viva a roupa que baralha
o sexo de quem a veste

viva todo o arco-íris
e a cor que se mistura
sete quintas, meias tintas,
viva a fúria e a doçura

não me voltes a dizer
que as crianças a crescer
precisam de copiar
o papá e a mamã

deixa ser eu a escolher
por quem me perco e me dano
porque eu amo a minha irmã
e amo também o meu mano...

será que nunca sentiste
que somos pó de universo
sujeitos à atracção
do que é igual e diverso
e será que não gravitas
à volta de quem te ama?
use vestido ou gravata
borboleta busca chama...

amar sem olhar a quem
nem ao sexo nem à cor
não é vício nem pecado
não é mal nem mau olhado

amar sem medo ou vergonha
amar a torto e a direito
amar sem manha nem ronha
não é tara nem defeito

amar sem olhar a quem
não é tara nem defeito
amar sem olhar a quem
amar a torto e a direito