À margem de um soneto
escrevo o que me vai na alma. Nesta alma de mulher
corre o fogo de um amor de outrora; não a paixão de Manuel Garcia, porém uma
paixão devastadora.
Mulher de perdição que fui, amor de sacrifício que
vivo tristemente, sob o dominó preto que me sufoca.
As orações de Soror Maria da Pureza são a oferta
do destino, um destino que não pedi, mas que me
As máscaras do destino... como ele é...
incerto,
como não o sabemos nunca...
como não lhe conhecemos o sobrenatural que
comporta...
Mamã, nesta carta da Herdade, que te escrevo como
dedicatória, voam as palavras do meu amigo Aviador, ele que corta os céus com
grandes asas, ele que tem como companheira vestida de negro, a morte...
O Inventor mergulhou também as suas palavras nesta
carta e nela semeou desordem, como no crime do pinhal do cego. Pobre cego...
esperou anos a fio o regresso do filho, porém os mortos não voltam, e sua
mulher, a morta que mais lágrimas derramou em vida, descansa agora eternamente.
Tudo o resto, é perfume.
(texto escrito algures no início dos anos 2000, após leitura da vida e obra de Florbela Espanca)