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15/10/08

23/06/08: 00h25min

Passei o Domingo na praia. Apanhei um escaldão. Estou frita. Literalmente. O que vou escrever desta linha em diante vai ser difícil, vai doer mais do que o escaldão e vai parecer uma declaração de amor. E é. Uma declaração.
E um amor.
Uma declaração de que quando tu me apareceste na cozinha te achei estranho e pensei: “Ui… vou ter que partilhar a casa com este gajo esquisito”.
Mas depois com os dias, começámos a conhecer-nos e demo-nos sempre bem. E já não me lembrava de “match” assim tanto com alguém.
Uma declaração de que: E agora quem se vai sentar no sofá individual enquanto vejo as séries da 2:?;
E agora quem me vai chatear porque estou deitada no sofá sem fazer nada?;
E agora quem me vai dizer que não é meu amigo?;
Vai ser estranho não ter o meu carro estacionado à frente ou atrás de um Seat branco mais pequeno do que eu, mas com umas escadas maiores que o mundo.
Quem me fará companhia no F2 e 4 do cinema?;
Quem escreverá a Lista das Espécies?
Quem comerá com pauzinhos?
A quem vou dizer Bom-dia; Olá; Até logo?
Quando voltarei a ouvir Tas cá? ou Bye Bye!
Uma declaração que não consegue declarar o que é, nem o que são as relações humanas.
Um amor: pelas pessoas. Pelo que elas me dão. Pelo que guardo. Pelo que recordo. Pelo quanto me marcam. Pela sua singularidade. Pelos seus simples sorrisos. Pela presença. Pelas expressões. Pela paciência.
Espero ver-te um dia numa bicicleta de rodinhas a ensinares o teu filho a andar, e a aprenderes com isso!
Espero que saiba como tu ouvir o canto da coruja.
Não estava à espera que fosse hoje. Que fosses hoje.
Apanhei um escaldão na praia. Cheguei a casa e tinha de me despachar para ir ao cinema. Não te vi. Não vos vi. No fim do banho ouvi um barulho e pensei Devem ser eles. Que bom! Vou pedir-lhe a ela para me pôr creme nas queimaduras.
Estava cheia de dores.
E continuo cheia de dor… agora cá dentro, onde também apanhei um escaldão. Um outro escaldão.
Esperava que me tivesses dito que ias embora. Ter sabido que era hoje. Poder dizer adeus. Abraçar-te.
Talvez tenham poupado ver as minhas lágrimas. Entrego-me demais às pessoas e depois é isto.
Recebo demais as pessoas, assimilo-as demais. E depois, quando a vida nos leva por caminhos diferentes: Sofro demais.
Tenho saudades demais.
Ela que não fique com ciúmes desta Declaração. Parece que a ouço dizer: É tão querida!, que lhe ouço ainda o riso, tão próprio, tão cheio de vontade.
Nem o teu cheiro ficou na casa.
Nem sei porque chorei, nem porque choro mais pelo facto de encontrar a casa sem ti e sem as tuas coisas, do que chorei com o filme no cinema.
Talvez por ter sido apanhada desprevenida.
Continuarás a fazer parte das minhas estórias e dos meus livros.
Foste embora hoje, ontem, dia 22 ainda, e eu vou poder voltar a tomar banho de porta aberta e a andar nua pela casa,…
Mas de que me vale tudo isso?
Se não vais estar cá para avariar o comando da televisão, para abrir a janela da cozinha logo de manhã e me incomodar a aragem fria que vem da rua?
De que me vale tudo isso, se não vão haver ninhos à porta da entrada e todo o teu material de campo?, se não vais estar cá pra dizer: Vou tomar café, já venho, antes das séries de 2: começarem?
Fiquei sem saber muito de ti, pais, irmãos, aventuras, desejos, medos,…

Tenho fome e estou queimada do sol. Tenho medo….
A vida é um fio de luz muito ténue. A qualquer milésimo de segundo pode apagar-se. Tento levar comigo todos os filamentos que posso.
Estou cansada. Vou dormir.
Boa-noite.
Bye bye!

2 comentários:

Anónimo disse...

o sol é um bicho tramado...



bicho desassossegado

Isobel disse...

pois é.... tudo vai, tudo vem, tudo desaparece e volta a aparecer sob novas formas.