Carla Veríssimo cria site para se dar a conhecer e ao seu trabalho.

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31/03/07

Tributo a Felipe

O INVERNO, para mim, é imaginar a casa do Felipe. Imaginar nós os dois e uma lareira acesa. Nós sentados num tapete felpudo, no chão, junto à lareira.

Uns almofadões espalhados pela sala. Umas velas acesas a uns cantos ou nenhumas velas acesas e só a luz das chamas.

Nós os dois a tomar chá e a conversar. A conversar a noite inteira. A rir,… ele a tocar…

Imaginar nós os dois a cantar.

A conversar. A conversar.

A con…. Até cair de son…. E adormecer ali mesmo, já quando não há chamas. Já quando só há duas ou três brasitas acesas…

e nós aninhados no sofá, enrolados em mantinhas de lã…

18/03/07

27. Fev 07

Estação de Metro de Sintagma, 20H15min: Concerto de Rebetiko, pela Greek Orchestra

Este sítio é incrível. Porque saímos do metro, do bulício das gentes, das correrias, dos corpos entalados nas portas do metro já quase em andamento, e entramos numa sala ampla, quase sem dar por ela, porque está logo ali em frente às escadas rolantes. Mas para o lado de cá das portas abertas desta sala, há música, há dança, há performances, vídeos, quadros na parede, pinturas, ... Há paz. Há esta boa sensaç
Ao de quando se está num concerto ao vivo.
Desculpem, não consigo escrever melhor o que estou a sentir... é difícil... mas para terem uma ideia a Orquestra canta ‘’There is nothing we can do, life is always like this, to laugh or to cry, every day and every night’’.
...
ainda assim vou tentar explicar um bocadinho melhor esta sensação que tenho, aqui nesta sala, porque não sinto que tenham entendido.
Há gente que sai do metro e decide cruzar as portas abertas desta sala e começa a deambular aqui dentro, a apreciar os quadros nas paredes, e como a Orquestra continua a tocar, estes transeuntes podem também disfrutar da música. E nós aqui sentados, apenas a apreciar os sons do piano, das buzukias, do violino, da guitarra e do clarinete, somos um pouco como os quadros nas paredes, e aposto que alguém nos está a apreciar neste preciso momento.
E a imagem que tenho é a das bonecas russas, umas dentro das outras. Neste caso, quadros dentro de quadros. E lembro-me ainda do Mundo de Sofia e as marionetas nas mãos de um desconhecido qualquer.
Assim, às gentes em correria para entrar no Metro, todos estes quadros lhes passam COMPLETA e literalmente ao lado.
e a frase certa para tudo isto é: Is to feel peace in the middle of the crowd!

05/03/07

Klimataria

não vos venho falar da Acrópole, de Ágora, Sintagma, Kolonaki, Victória, nem de Monastiraki, da Rua Ermou ou do Teatro de Herodes Attikus.
não vos venho escrever sobre Rebetiko, Cariátides, Zappio, Plaka, Areopagus, nem sobre o Temple of Olympian Zeus, nem da Estação de Comboios de Omonia (a minha favorita), nem da Manifestação dos Estudantes, por um ensino publico gratuito.
não vou falar do Estádio Olímpico, nem de Savina Yannatou, kanonaki ou buzukias. 
muito menos falar-vos da igreja Kapnikarea, na Rua Mitropoleos, "vendida" nos panfletos turísticos como ''A igreja debaixo de umas arcadas". Acontece que na urgência de uma Atenas em expansão, onde dos 10 milhões de habitantes de toda a Grécia, 4 milhões se engalfinharam na Capital, alguém decidiu construir um prédio enorme com arcadas POR CIMA da dita igreja...
E é assim que um tão grande desordenamento urbano, ao invés de provocar a ira, gere um ponto de interesse turístico!!
Assim que não vos venho falar de nenhum destes lugares-comuns, mas sim de um lugar, talvez comum em muitos lugares existentes por esse mundo fora: O RESTAURANTE KLIMÁTARIA.
UMA CASA sem explicação. Só vista!
lamparinas de petróleo a iluminar as mesas. mesas pequenas de madeira. cadeiras com acento de corda entrançada e para que o rabo não sofra muito, algumas têm umas almofadas velhas e sujas em cima, mas feitas de arraiolos!!! Outras têm uns tapetes, outras uns pedaços de napa, outras naperons,...
a iluminar a sala, além das lamparinas a petróleo e de uns candeeiros pendurados na parede, tipo altar, há duas velas de cera à minha altura. Literalmente à minha altura!
há ainda uma lareira acesa e nas paredes... enfim... como escrever... tudo e mais alguma coisa que possam imaginar que o homem tenha acumulado vida FORA, mas que tenham ficado ali DENTRO daquele lugar!!
gaiolas, panos, raquetes, espanta-espíritos, detergentes, camelos de plásticos, cassetes, ... e ali ao canto, um amontoado do que qualquer pessoa chama LIXO, bordel, o degredo, sei lá! há tanta, tanta tralha, que o amontoado faz continuação com as belezas penduradas nas paredes!
malas, cobertores, aparelhagens, tapetes farfalhudos, guitarras partidas, roupa, roupa, roupa, candeeiros, bonecos de peluche, bonecos de plástico, roupa, roupa, roupa,... bancos,...
e depois disto tudo, provavelmente nenhum de vós jantaria num LUGAR tão comum quanto este!! A NÃO SER, que eu faça dele um ponto de interesse turístico, como os construtores do edifício das arcadas, fizeram com a igreja...
A imagem disto é mais ou menos a mesma de quando fui a casa de umas primas, e a avó delas tinha tanta, tanta, tanta, mas tanta roupa amontoada na estreita entrada de casa, que quando o telefone tocava, ouvia-se um som muito ao longe, ou nem se ouvia, ou não se sabia onde estava o telefone.... e claro, estava debaixo do monte de roupa...
assim que a entrada deste 'Restaurante' é exactamente assim, estreita e com um monte de roupa, de bonecos, cassetes, telefonias, .... talvez com a diferença que não vi nenhum telefone. Mas não sei se estará lá debaixo!!
Aqui também não faltam teias de aranha! Qualquer pessoa já teria, inclusive pensado nisto. Nisto e em todos os animais amiguinhos destes ''places'', tipo ratazanas, baratas, pulgas, caraças e daí pra baixo!!
E acreditam que o Restaurante está cheio?!
Pergunto-me se existirão mais lugares como este, por esse mundo-comum fora?
O jantar: beringela laminada e frita, muito boa! Salsichas, tipo Alemãs, com tomate e oregãos. Boas, boas! Queijo feta, frito e um psomi (pão) fantástico!
Há gatos em cima das mesas e as pessoas a jantar! E um deles a espirrar-se todo! Onde é que eu já vi isto?!
Entretanto reparo nas mãos do dono do ''Restaurante'' (que é quem serve às mesas)... Elas não estão sujas, estão... negras, IMUNDAS, sei lá, encardidas do tempo!
será que a comida sabe melhor por causa disso?! 
Chama-se Makis, tem 70 anos e tá sempre a dizer asneiras, como ''Gamôto''.
Vem à mesa ao lado da minha e vejo-o espremer um limão, com as mãos encardidas do tempo, para cima duma salada!
Quando o Iannis lhe disse que eu sou Portuguesa, começou logo a dizer Ah, Amália Rodrigues, Amália Rodrigues, Piaf and Muskuri, ena!! (ena, significa Um).
E disse ainda que a voz da Amália não vai voltar existir, não vai voltar a aparecer voz como a dela. Portugal teve bons cantores, mas como ela não há. Aliás, a voz dela não é de Portugal.. é do Mundo!
E lembro-me daquela música Todos nós temos Amália na voz/E temos na sua voz/A voz de todos nós!
Depois falou também da sua Teoria acerca das Relações Humanas. Disse que quando conhecia uma mulher, primeiro ia para cama com ela e só depois falavam de coisas da vida, música, arte, religiões, o que fosse. Porque de outra forma, o coração estava sempre acima da razão, ou a vontade do corpo acima do pensamento e não se estava totalmente livre para conhecer totalmente a outra pessoa. Assim, que satisfeitos os impulsos, podiam então conhecer-se!!...
Os gatos continuam a saltar de mesa em mesa e a lamber os pratos, agora só com restos.
Eu comi tanto, e tantos fritos, que fiquei mal disposta. A ponto de ter que pedir uma água das pedras. E não é que o Makis abriu a garrafa à minha frente?? Sabem como sou com estas coisas dos ''mínimos'', e ''não se traz uma bebida ao cliente já no copo''!
Enquanto saboreio este carinho na minha alma, penso que cada tralha em meu redor tem uma história, um porquê de estar ali, um passado útil.
Reparo ainda num quadro na parede assinado pelo Makis que diz A música é uma espécie de amor, um carinho nas nossas almas, e o artista respira através dos aplausos. 
E de aplausos respira também Marta, uma rapariga na mesa ao lado, que canta na sua voz bonita, enquanto os amigos tocam.
To logariasmo: 20 evro!


01/03/07

Como se não houvesse amanhã

As nossas fotos de viagem podiam ter sido eu com aquele sorriso de parva e a cara de lado, uma mão não sei onde e a outra em cima das costas do sofá cor de rosa-velho.
Podia ter sido nós a inventar que era a nossa sala de estar à direita e a nossa suite à esquerda.
Mas foi o nosso quarto, com espelho na parede, é certo. Mas foi a nossa sala ali do outro lado do corredor, sem sofás nem nada; só a ficha para carregar o telemóvel.
Foi a nossa sala de ballet, posteriormente ocupada por uma não nossa convidada. Foram os nossos vizinhos na casa sem paredes, embrulhados um no outro e que se decidissem fazer amor, sexo ou o que fosse nós víamos tudo. E ouvíamos!
E foram ainda as velhas a chegar primeiro do que nós ao sofá rosa-velho. A chegar primeiro por alguma razão que só os ossos delas conhecem, justamente para que daqui a três horas, fora as outras 3 que já passaram desde que entrámos no barco, não esteja um osso a cada canto e as velhas desconjuntadas, ainda mais partidas do que eu.
Foram as velhas a chegar primeiro ao sofá rosa-velho para não acordarem a meio da noite, exactamente a meio e, em vez de beberem um copo de água ou irem à casa-de-banho, começarem a escrever que As nossas fotos de viagem podiam ter sido eu com aquele sorriso de parva e a cara de lado, uma mão não sei onde e a outra em cima das costas do sofá cor de rosa-velho.
Ass. Carla, 3.10 da manhã, que entretanto já passaram 10 minutos desde que comecei a escrever isto. A escrever e a flatular-me toda como se não houvesse amanhã, já diria a Guil!
Olha, e agora a Alexandra tá a roncar!! Lindo!! Ah! E a nossa não convidada também e ainda mais alto!!



g

Our trip photos could have been me with that stupid smile, my face turned, one hand I don’t know where and the other one above the back of the old-pink sofa.
Could have been me inventing that it was our living room on the right and our suite on the left.
But it was our bedroom with a mirror in the wall in fact. It was our living room on the other side of the hall without sofas, without nothing. Just the plug to charge the mobile.
It was our ballet room, later occupied by one uninvited woman.
It was our neighbours in the house without walls, hugging each other and if they had decided to make love, sex, whatever and we could see everything. And listen!
And it was also the old women getting first in the old-pink sofa for some reason that just their bones know, maybe to avoid leaving one bone in each corner after 3 more hours of trip and not to be as broken as me.
It was them getting first to the sofa to avoid waking up in the middle of the night, right in the middle, and instead of drinking a glass of water or going to the bathroom, beginning to write that Our trip photos could have been me with that stupid smile, my face turned, one hand I don’t know where and the other one above the back of the old-pink sofa.
Sig. Carla, 3.10 a.m., because 10 minutes have passed since I started writting this. Writing and farting, as tomorrow never comes, like Guil says!
Oh, and now Alexandra is snoring!! Great! Oh! And our uninvited too and even more loudly!